sábado, 5 de setembro de 2015

Os torcedores e, principalmente, a imprensa esportiva precisam quebrar os conceitos arcaicos do futebol brasileiro - os técnicos também devem se atualizar


No dia 8 de julho de 2014, aconteceu uma épica vitória da Alemanha por 7 a 1 diante do Brasil em pleno Mineirão lotado numa semifinal de Copa do Mundo, desde então fala-se muito em uma renovação do futebol brasileiro, apenas fala-se, pois na prática pouco ou quase nada mudou, não só na CBF, mas também nos pensamentos de alguns torcedores (em grande maioria) e, principalmente, da imprensa esportiva (em grande maioria), que poderiam ser os responsáveis por disseminar o fim de alguns conceitos arcaicos do futebol brasileiro.

Meu time é fraco tecnicamente, precisamos ter humildade e colocar volantes ''brucutus'' para dar uma maior segurança defensiva pra equipe...

Esse pensamento acima é muito antigo e errado. Ter 1, 2 ou 3 ''volantes brucutus'' não ajuda a equipe, na verdade prejudica ainda mais. Se uma equipe é muito compacta - como na imagem abaixo - e busca sempre a criação de superioridade numérica e fechar as linhas de passe, como na segunda imagem abaixo, o adversário não terá tempo (para pensar) e espaço (para executar o passe ou a finalização) e acabará errando o passe, ou seja, não é necessário um ''brucutu' pra roubar a bola.

Reprodução: Rede Bandeirantes

Reprodução: SporTV/ Premiere
No futebol moderno, a saída de bola qualificada pelo centro do campo é primordial. A lógica é simples: pelo centro do campo, existem várias opções de passe para o jogador que está com a bola, inclusive, os jogadores nas beiradas do campo, mas não adianta apenas ter opções, o jogador que está com ela (normalmente na saída é um volante) precisa ter passe qualificado para o jogo da equipe ter progressão vertical.

Centroavante só serve pra fazer gol...


Não existe centroavante que só serve pra fazer gol, pois se existisse a cada toque na bola, ele fazia 1 gol e, infelizmente, esse jogador ainda não nasceu. O centroavante Grafite, que recentemente voltou ao Santa Cruz, aprendeu no futebol europeu que a defesa começa no ataque e, atualmente, é um erro dizer que ele joga só com a bola - a imagem abaixo exemplifica isso. O centroavante também deve participar da fase defensiva, e não ficar ''paradão'' lá na frente.

Reprodução: Premiere
Outra contribuição importante de um centroavante, que geralmente são altos, é o trabalho de pivô: ao sair da área pra fazer o pivô, o centroavante geralmente - contra times que fazem encaixes individuais, que infelizmente ainda é muito comum no Brasil - atrai um marcador e, consequentemente, cria espaços para os companheiros aproveitarem, como no lance abaixo.

Reprodução: Premiere
O lateral-esquerdo está sempre livre pela esquerda e o time todo na direita, que time desorganizado...

Essa frase acima está errada: o time não está desorganizado, na verdade está organizado, pois está executando com primazia o balanço defensivo - movimento das linhas de uma lado para o outro conforme a circulação da bola-, conceito essencial da marcação por zona. Neste caso, a referência dos jogadores é o espaço e a bola, não o individual. Já o jogador livre não receberá a bola, pois a equipe fechará as linhas de passe do adversário com a bola. Isso precisa ser disseminado pela imprensa.

Nosso time precisa urgentemente de um camisa 10 pra armar o jogo...


Esse pensamento acima é dito e escrito por muitos torcedores daqui do Brasil, mas é errado, mesmo com alguns jornalistas (não são todos) dizendo que uma determinada equipe precisa contratar um armador. Armar o jogo não depende de camisa 10, mas sim de mecanismos coletivos e modernos, como a saída lavolpiana ou saída de 3, com um volante afundando entre os zagueiros (que abrem), os laterais avançando para dá amplitude, e os meias e/ou atacantes se movimentando e aproximando-se dos zagueiros e volantes em busca de criar linhas de passe.

Pegarei dois exemplos de times brasileiros já analisados por este blog: o Grêmio de Roger Machado e o Sport de Eduardo Baptista. Observem nas imagens abaixo: a construção de jogo começa lá na defesa, com mecanismos coletivos e modernos, sem depender de camisa 10.

Reprodução: SporTV/Premiere
Reprodução: Rede Bandeirantes

Nosso time está muito defensivo, precisamos atuar no 4-3-3...

Sistemas ou esquemas táticos não são sinônimos de estratégia. Em uma partida de futebol, ambos os times podem atuar com o mesmo sistema tático, mas com estratégias totalmente diferentes. Exemplo: duas equipes se enfrentam e atuam no 4-3-3, uma das equipes propõe o jogo, com linhas adiantadas, buscando valorizar a posse de bola com toques curtos e rápidos, enquanto que, a outra equipe busca explorar os contra-ataques, marcando a partir de seu próprio campo e, por vezes, busca acionar os pontas com lançamentos longos.

A falta de informação na imprensa esportiva brasileira é muito prejudicial pro futebol brasileiro, pois sem a informação correta sobre determinados assuntos do jogo, gera-se interpretações e, consequentemente, críticas a técnicos mesmo sem o menor entendimento do jogo, e os dirigentes que em grande maioria contratam técnicos sem convicção, acabam demitindo por pura pressão de torcedores, sem planejamento algum. 

O futebol brasileiro dentro de campo mostra uma boa evolução tática, mas só isso não adianta, é necessário uma evolução no pensamento do torcedor, da imprensa, dos dirigentes e de alguns técnicos, que precisam estudar e buscar conhecimento e não viver do passado, já que quem vive de passado é museu. O futebol evolui a cada dia, o Brasil não pode ficar pra trás.


Por: José Victor
Siga-me no Twitter: @josevitor83


Um comentário:

  1. Olá Victor, tudo bem com você?
    Meu nome é Marcelus Almeida, sou professor de Futebol, no Centro Acadêmico de Vitória.
    Adorei suas ideias e espero estarmos juntos em breve.
    No dia 19 de outubro vamos oferecer um mini curso, para tratarmos das divisões de base no futebol.
    Assim, espero contar com sua presença para trocarmos conhecimentos, ok?
    Abraço,
    Marcelus Almeida

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